Quem foi Paulo Freire e qual a importância da sua obra?

Paulo Freire: uma vida dedicada à educação para transformação social

Em 21 de setembro de 2021, Paulo Freire completaria 100 anos se estivesse vivo. O educador nomeia cerca de 350 escolas no mundo e é um dos autores mais citados quando o assunto é educação e alfabetização de adultos.

De perseguido e exilado pela ditadura civil-militar a Patrono da Educação Brasileira: por que Paulo Freire não passa despercebido?

Sua principal obra, “Pedagogia do Oprimido”, foi traduzida em mais de 20 idiomas. Segundo uma pesquisa da London School of Economics, de 2016, também foi a terceira obra mais citada no mundo na área de Humanas. Sua metodologia de alfabetização é aplicada mundo a fora até hoje. Inegavelmente, uma figura irreverente.

Pela memória, pela história, pela educação que transforma: vem, que hoje é dia de Paulo Freire!

 

A infância de Paulo Freire

Paulo Freire nasceu no dia 21 de setembro de 1921, na capital pernambucana, e possuía 3 irmãos: Stela, Armando e Temístocles; era o caçula. Filho de um capitão da polícia militar, seu Joaquim Freire e uma dona de casa, Edeltrudes Freire, a dona Tudinha.

Ainda criança, o futuro educador viu seu pai adoecer e precisar parar de trabalhar. Sem sustento, sua família precisou recorrer ao tio Rodovaldo, padrinho de batismo de Paulo Freire, e que era um comerciante bem-sucedido no Rio de Janeiro. Ele ajudou a família Freire, o que possibilitou que eles se mudassem de Recife para o Morro da Saúde, no município de Jaboatão dos Guararapes, logo em 1932.

No entanto, o mundo atravessava a Grande Depressão, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, atingindo o Brasil. Logo após essa mudança de cidade, a crise também impactou o comércio do tio Rodovaldo, que ficou impossibilitado de continuar ajudando a família.

A situação era devastadora, mas ficou pior: com apenas 13 anos, em outubro de 1934, Paulo Freire viu seu pai falecer e sua mãe ficar viúva aos 42 anos. Assim, ficaram Dona Tudinha e seus quatro filhos à própria sorte, e logo depois conheceram a fome e a pobreza que assolava o sertão nordestino.

Como começa a trajetória de educador de Paulo Freire

Quando o pernambucano tinha 15 anos, sua mãe começou a procurar por escolas em Recife para que ele pudesse estudar. Conseguiram uma vaga, a partir de uma bolsa de estudos, no colégio Oswaldo Cruz, permitindo que ele terminasse o colegial. Como resultado, pensando em retribuir a oportunidade recebida, Paulo Freire passou a dar aulas na mesma escola, iniciando sua carreira de professor.

O ingresso no ensino superior ocorreu, então, aos 21 anos, em 1943, no curso de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, onde também estudou Filosofia da Linguagem. Ele nunca exerceu a profissão e preferiu trabalhar como professor numa escola de segundo grau lecionando língua portuguesa.

Inegavelmente, com seu empenho e paixão, as coisas começaram a acontecer para ele. Foram muitas posições alcançadas, várias pessoas cruzando seu caminho em uma vasta caminhada, sobretudo em seu estado natal, Pernambuco.

Após uma década de trabalhos voluntários e pastorais na área da educação, e de ocupar muitos cargos importantes, a maioria por convites, Paulo Freire compreendeu que o processo educativo era mais eficiente quando praticado através do diálogo com os alunos e suas famílias, sobretudo, trazendo o ensino para a esfera do cotidiano real e de maneira democrática, o que acarretava, por consequência, o pensamento crítico.

Esse tempo germinou a semente do que viria ser o que é a pedagogia de Paulo Freire.

De Pernambuco para o mundo

No entanto, sua carreira começa a tomar notoriedade no começo dos anos 50, fase de modernização e construção urbana acelerada do Brasil em uma experiência diferente de democracia de massas e populismo.

Neste contexto, Paulo Freire defendia que o processo de desenvolvimento nacional era indissociável da inclusão da participação ativa de toda a população, sem um excluído sequer, sendo a educação o caminho para tal feito, já que Freire era contra o ensino vertical, de cima para baixo, apostando na horizontalidade do diálogo entre professor e aluno.

No início dos anos 60, Miguel Arraes, governador de Pernambuco, convidou o educador para desenvolver um projeto de alfabetização de adultos. O convite foi aceito e a semente, que lá atrás foi plantada, já havia se transformado em uma linda árvore, pronta para dar frutos.

A metodologia pedagógica: o método de Paulo Freire

Paulo Freire já era um educador experiente e exemplar. O projeto consistia em um processo de uso do vocabulário e conhecimentos já tidos pelos alunos, e não elementos externos.

A inspiração veio de um passeio de Freire com seu filho, na época com dois anos, que viu na rua uma propaganda do achocolatado Nescau e, logo em seguida, falou em voz alta “Nescau”, cantando a música da propaganda que assistiu na TV. Isso impressionou Paulo Freire, que passou a pesquisar mais sobre a relação entre imagem e som, com exemplos do cotidiano real dos alunos, ou seja, palavras como, por exemplo, “comida”, “farinha”, “seca”, “sol”, e elementos da realidade eram contextualizados e explorados, como a pobreza, o trabalho e a fome.

O método da pedagogia de Paulo Freire também envolvia a divisão silábica, assim, primeiro aprendiam-se as sílabas, depois as palavras inteiras, não somente, aprendiam a formar novas palavras a partir das sílabas aprendidas. Explorando sempre o cotidiano dos alunos, trazendo junto à alfabetização o pensamento crítico sobre situações apresentadas pelos contextos. Assim, o pernambucano ensinava adultos a ler e a escrever.

No entanto, a consagração do método pedagógico de Paulo Freire ocorreu em 1963, época em quase metade da população adulta era analfabeta, realizando a famosa experiência em Angicos, no Rio Grande do Norte, em que Paulo Freire, a convite do governador Aluízio Alves, alfabetizou 300 adultos, cortadores de cana, em 40 horas de aulas distribuídas ao longo de 45 dias.

Um sonho interrompido

O sucesso da experiência nutriu a esperança de uma pátria educadora. Então, em janeiro de 1964, o presidente João Goulart deu início ao Programa Nacional de Alfabetização (PNA), coordenado por Paulo Freire e estruturado em seu método pedagógico, e tinha por objetivo alfabetizar cerca de 5 milhões de pessoas.

É importante lembrar que, naquela época, analfabetos não votavam e a eficácia do projeto também significaria uma movimentação política gigantesca, sobretudo pelo fim da estratificação social. Ao passo que educação significa mobilidade social e emancipação para povos oprimidos, o plano ambicioso representava uma transformação para o Brasil.

No entanto, em 1 de abril de 1964, os militares deram um golpe de estado, empossando o General Castelo Branco. O PNA foi cancelado imediatamente e Paulo Freire foi preso.

Depois de setenta dias na prisão, recomeçou sua jornada em exílio com sua família, passando pela Bolívia, Chile, Estados Unidos e Suíça.

Paulo Freire pelo mundo

Durante sua estadia no Chile, trabalhou para o governo no âmbito da educação para camponeses, alfabetizando muitas pessoas e marcando a sociedade chilena. Lá, também escreveu sua obra mais famosa: “Pedagogia do Oprimido”, publicada em 1968. Depois disso, foi convidado para dar aulas nos Estados Unidos, na Universidade de Harvard, e seguiu para o país com sua família.

Mas não parou, continuou viajando o mundo auxiliando na alfabetização de milhares de pessoas, tornando-se uma referência em educação, pedagogia e alfabetização de adultos. Foi uma época de consagração e reconhecimento.

Enquanto isso, no Brasil, após uma intensa pressão popular, o militar João Figueiredo assinou a Lei da Anistia, que entre outras coisas, perdoava os exilados e presos políticos. Então, Paulo Freire e sua família voltaram após 15 anos exilados.

Como foram os últimos anos de Paulo Freire

Com esse retorno, seus feitos mais importantes incluem lecionar na Pontífice Universidade Católica (PUC) e na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Também continuou sua produção acadêmica e sua atuação política, ajudando a fundar o Partido dos Trabalhadores, em 1980.

Nesse sentido, com o fim da ditadura em 1984, as eleições de 1988 deram a vitória da prefeitura de São Paulo à Luiza Erundina, a primeira mulher à frente da prefeitura paulistana na história, e ela prontamente convidou Paulo Freire para ser seu Secretário da Educação. Este foi seu último grande cargo ocupado.

Passou o restante de sua vida escrevendo, até que em 2 de maio de 1997, o pernambucano faleceu em decorrência de um ataque cardíaco, no hospital Albert Einstein. Sabia que seu legado permearia gerações e que viveu por uma sociedade mais justa, igualitária e emancipada.

A importância da obra de Paulo Freire está, entre outras coisas, na inovação trazida em seus métodos educacionais e pedagógicos com foco na transformação social. Não porque a educação liberta, mas, porque as pessoas mudam através do pensamento e consciência crítica adquiridos e responsabilizam-se por mudar o mundo para melhor.

Freire recebeu o título de Doutor Honoris Causa por 48 universidades do mundo. Do latim, “por causa da honra”, este título é uma honraria concedida por universidades à pessoas que se destacam em sua área de atuação, pelo respeito que recebem pela sociedade e do seu próprio setor especializado.

No Brasil, tornou-se Patrono da Educação Brasileira em 2012. Além disso, é considerado por muitos especialistas um dos maiores educadores da humanidade.

 

Navegue mais pelas nossas aulas gratuitas e pratique com os nossos simulados! 💛

Transforme sua vida, mesmo dentro de casa. Aprender muda tudo. Ser aprovado, também. O Aulática Educação oferece a melhor experiência de ensino pré-vestibular 100% online para todo Brasil. 😉

Estude com o Aulática para o Vestibular!

Entre para as turmas de maio e estude o ano inteiro pagando menos de R$2,00 por dia!

Saiba Mais